A desgraça ensina

Біда навчить, fábula bem-humorada de autoria de Lesia Ukrainka, poetisa e escritora famosa e cultuada em toda a Ucrânia

 

 

Autora: Lesia Ukrainka

Tradução: Ludmila Szymanskyj

Todas as imagens são do livro ilustrado por Valentin Litvinenko, 1978,

in: http://book-graphics.blogspot.com.br/2013/05/trouble-will-teach-you.html

 

Lesia Ukrainka [Леся Українка] é o pseudônimo de Laryssa Petrivna Kosach-Kvitka [Лариса Петрівна Косач-Квітка], o verdadeiro nome da grande poetisa ucraniana, que amava sua Pátria e cantava em prosa e verso a natureza peculiar de sua querida Ucrânia. Aqui uma fábula em linguagem simples, deliciosa de ler.

 

 

Um jovem pardal, até que era um bom pardal, mas tinha uma falha: ele não era inteligente. Após sair do ovo não aprendeu muita coisa. Não sabia fazer um ninho e nem achar um bom grão para comer. Passava o tempo dormindo e comia o que aparecia por perto. O único dom que tinha era o de ser briguento. Entreva em uma briga por um nada.

Um dia, com seu amigo, também um jovem pardal, ciscando no lixo, encontraram três grãos de cânhamo. O Pardal da nossa história logo gritou:

– Os grãos são meus! Eu os achei primeiro!

O outro pardal também gritou:

– Não! São meus! Eu os achei!

E começaram a brigar. A briga foi muito feia. Pulavam, bicavam-se um ao outro e as penas voavam para todos os lados, para cima e para baixo. Brigaram até perder as forças. Após a briga, sentaram, emburrados, um em frente ao outro. E com o tempo já não se lembravam por que motivo estavam brigando. Aí se lembraram dos grãos. Onde eles estavam? Olharam em volta e nada dos grãos. Uma galinha ciscava pelo quintal, seguida por seus filhotes. E cacarejava:

– Os tolos brigavam e os espertos comeram.

– O que? O que você está falando? – perguntaram os pardais.

– Eu sou grata a vocês. Enquanto vocês brigavam, eu e meus filhotes almoçamos bem, comendo os grãos. Vocês são uns tolos. Se tivesse um pouco de juízo, até que seriam bons pássaros.

 

 

O outro pardal ficou zangado:

– Ensine aos seus bobos pintinhos. O juízo que eu tenho é suficiente para mim.

Bateu as asas, gorjeou e saiu voando.

“A galinha tem razão” pensou Pardal. “É melhor ser inteligente! A galinha comeu os meus grãos; eu fiquei sem nada e estou com fome”.

Pardal pensou, pensou, e falou para a galinha:

– Tia, me ensine a ter juízo. Você é tão inteligente!

– Oh, não! – falou a galinha – Me desculpe, mas eu tenho muito o que fazer; preciso ensinar aos meus filhos como viver neste mundo. Procure outro professor!

E foi embora, com seus filhotes para o galinheiro.

– Bem… o que eu tenho que fazer? Já sei, vou procurar outro para me ensinar. Não quero mais viver sem juízo.

E voou para o bosque.

No bosque, encontrou um cuco, que estava pousado no viburno (kalena, árvore típica da Ucrânia, de frutos vermelhos). Ele gorjeava o seu “ku-ku”, “ku-ku”.

 

 

Pardal voou até o cuco e pediu:

– Tio, por gentileza, me ensine a ter juízo. Já pedi à galinha, mas ela falou que tem seus próprios problemas.

– Meu rapaz – respondeu o cuco -, eu não tenho problemas e não os quero ter ensinado os filhos dos outros. Isto não é meu assunto. Se você quer saber quantos anos de vida terá, isso eu posso te falar.

– Não, obrigado. Fique em paz – falou Pardal aborrecido.

Pardal voou até chegar a um pântano. Lá uma cegonha estava pegando sapos. Sem muita coragem, Pardal foi falar com a cegonha.

 

 

– Tia, por favor, me ensine a ter juízo. A senhora é tão inteligente!

– O que, o que? – balbuciou a cegonha. – Suma daqui! Eu conheço a sua raça!

Pardal, assustado, voou para longe. Voando, Pardal viu o corvo, muito triste, sentado no campo.

– Tio, por que você está tão triste? – perguntou Pardal.

– Não sei, filho, porque eu estou triste.

 

 

Então Pardal criou coragem e pediu ao corvo para lhe ensinar a ter juízo.

– Não, filho. Não posso te ensinar a ter juízo porque eu não o tenho. Se você quer aprender, voe até a coruja. Dizem que ela é muito inteligente.

– Adeus, tio! Obrigado! – falou Pardal.

– Boa sorte! – respondeu o corvo.

Pardal começou a procurar a coruja. Lhe disseram que ela vivia no oco do carvalho. Pardal voou até lá. De fato, a coruja estava no oco, dormindo.

– Senhora, você está dormindo? – sussurrou Pardal.

A coruja acordou assustada, gritando:

– O que foi? O que aconteceu? Quem é você?

Pardal também ficou assustado, mas não perdeu a coragem.

– Sou eu, Pardal…

– Pardal? Qual pardal? Eu não enxergo nada. O que você está procurando? Por que não me deixa dormir? Estou com sono! Não posso mais dormir de dia – resmungou a coruja e pegou no sono.

Pardal não se atreveu a acordá-la de novo. Ficou sentado, esperando a coruja acordar. Quando escureceu, a coruja acordou e começou o seu “hu-hu!”, “hu-hu-hu-uu!”.

 

 

Pardal gelou de medo. Queria fugir. A coruja saiu do oco com os olhos brilhantes bem abertos e olhou para Pardal.

– O que você está fazendo aqui? – perguntou.

– Bem, desculpe-me. Eu estou aqui desde a manhã.

– Por que você está aqui?

– Esperando a senhora acordar.

– Bem, estou acordada. O que você quer?

– Eu gostaria de pedir se a senhora poderia me ensinar a ter juízo. A senhora é tão inteligente…

– Eu tenho juízo, mas não para ensinar aos outros. Vou procurar comida pois estou faminta! – gritou a coruja.

Pardal voou assustado, escondeu-se dentro dos arbustos e dormiu até o outro dia.

Pardal estava em sono profundo quando algo gritou perto dele:

– “Tche-tche-tche!”

Pardal acordou e viu uma pega (ave da família dos corvos).

 

 

 

– Com quem você está falando? – perguntou Pardal.

– Como você é curioso… Talvez, com você!

– Oh, eu ficarei muito feliz se for comigo! Pois quero te pedir o favor para me ensinar a ter juízo.

– Para que você precisa ter juízo? Seu juízo é mais fácil viver, meu jovem. É melhor você aprender a roubar. Assim como eu faço. Isto sim eu posso te ensinar como viver sem juízo. – rangeu a pega.

– Eu não quero este ensinamento! – gritou Pardal revoltado. E voou mais rápido para longe da pega.

Pardal parou no campo e ficou pensando:

“onde eu vou encontrar juízo? Já voei meio mundo, porém não aprendi muita coisa. Será que eu vou ficar sem juízo?”.

Olhando com tristeza em volta, viu um corvo negro andando pelo campo.

 

 

 

“Ainda vou perguntar a ele. Esta vai ser a última vez.” pensou Pardal.

– Me ensine a ter juízo! – falou diretamente com o corvo. – Já faz tempo que estou procurando mas não consigo encontrar.

– Juízo, meu jovem, não está espalhado por aí. Não é fácil achá-lo. Vou te dizer uma coisa: a desgraça vai te ensinar a ter juízo. Este é o meu ensinamento.

Pardal foi embora triste.

“Para que eu preciso desta lição?”

Não procurou mais ninguém para ensiná-lo a ter juízo. Ficou um pouco triste mas com o tempo esqueceu e começou a se divertir outra vez.

 

 

 

Divertindo-se, não percebeu que o verão estava chegando ao fim. No outono, começaram os ventos frios e a chuva. O tempo passou e começou a nevar. O coitado do Pardal passava fome e frio. À noite, por causa dos ventos gelados, não conseguia dormir e durante o dia não encontrava nada para comer. Se encontrasse algum grão, certamente iria brigar com outros pássaros e perdia o alimento. Com toda essa desgraça, começou a mudar. Parou de brigar. Acompanhando os outros pardais e dividindo a comida, a vida melhorou bastante. Os pardais não o enxotavam mais do grupo. E antes nem o deixavam chegar perto.

Pardal observou que os pássaros faziam seus ninhos. Pois ele também começou a catar penas e palha para fazer seu próprio ninho.

Com o tempo, os pardais começaram a respeitá-lo, convidando-o para participar das reuniões e aceitando suas opiniões.

Assim, ele passou bem o inverno. Com a chegada da primavera, já era um pardal adulto e inteligente. Também não estava sozinho, mas com uma pardoca e no ninho havia quatro ovinhos. Quando os pardaizinhos nasceram, ele tinha muita preocupação em cuidar, alimentar e proteger os filhotes do frio e das aves de rapina.

 

 

 

Os vizinhos perguntavam:

– Onde você aprendeu a ser tão inteligente?

Pardal inclinava a cabeça e respondia:

– A desgraça ensina a ter juízo!

 

Veja e ouça:

 

Em outra versão, a história contada lindamente:

 

 

E se você quiser, veja aqui o texto original (in: http://lesya.artiweb.org.ua/works/varia/bidanav.html), em ucraniano:

 

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