São Nicolau, o verdadeiro Papai Noel
Muito querido pelo povo ucraniano, São Nicolau [Святий Миколай] , patrono das crianças, é homenageado no dia 6 de dezembro.
São Nicolau [Святий Миколай] é retratado como um senhor idoso, de face serena, olhar meigo e carinhoso, longa barba branca e vestes eclesiásticas de bispo oriental. Mesmo tendo nascido no Oriente Médio, é um dos santos mais populares da Ucrânia, que dedicaram a ele uma cidade, Mykolaiv [Миколаїв], no sul do país, além de várias igrejas, tanto na Ucrânia, como em outras partes do mundo em que existem comunidades ucranianas. Também é um santo muito reveriado por outros povos eslavos e europeus.

Nascido no século III em uma abastada família cristã, desde menino demonstrava sua boa índole e um amor especial para com os mais necessitados, exercitando a caridade sempre com muito carinho graças à generosa herança familiar que fazia questão de dividir com os pobres mesmo após se tornar bispo da Igreja. Vários milagres lhe foram atribuídos, tanto em vida como após sua morte (seus restos mortais se encontram na cidade de Mira e de seu túmulo se libera um óleo perfumado). Por tudo isso, São Nicolau foi imortalizado no culto, na iconografia e na liturgia ucranianos, exaltando assim a figura de um ser humano generoso, que foi o verdadeiro Papai Noel, muito além do que hoje se estabeleceu como um padrão comercial.

O dia de São Nicolau é comemorado por cristãos de várias igrejas (ortodoxos, católicos, anglicanos, luteranos) em 6 de dezembro, pelo calendário gregoriano (na maior parte do mundo) ou no dia 19 de dezembro nos países que ainda usam o calendário juliano para celebrar as festas religiosas (caso da Ucrânia, que comemora o Natal, por exemplo, no dia 7 de janeiro e apenas neste ano de 2017 está incluindo o Natal do dia 25 de dezembro em seu calendário oficial).
Muitas músicas foram feitas sobre São Nicolau. A mais conhecida e popular é a música Ой Хто Хто Миколая любить (Oi quem quem Nicolau ama).
Antigamente, na Ucrânia, a data era muito comemorada. Na véspera, as crianças escreviam uma cartinha para São Nicolau contando tudo o que haviam feito de bom e pedindo desculpas por todas as más ações. As cartinhas eram colocadas sob os travesseiros ou em meias penduradas nas cornijas das lareiras ou mesmo em sapatinhos que ficavam nos peitoris das janelas. Em alguns lugares, grupos se organizavam. Uma pessoa se caracterizava como São Nicolau e vinha acompanhado por seus ajudantes (um representando um anjo e as boas ações e outro representando as más ações em uma figura maléfica, geralmente um bode ou um demônio); iam de porta em porta badalando sininhos, entoando cânticos comemorativos e entregando presentes às crianças. Em outros lugares, os presentes eram deixados onde estavam as cartinhas.

São Nicolau é considerado o padroeiro dos guerreiros, dos soldados, dos motoristas, dos viajantes. Cuida de marinheiros, comerciantes, vendedores e arqueiros. Porém, acima de tudo, é patrono de crianças e estudantes. E é, principalmente, solicitado para ajudar os pobres e os que estão em dificuldades financeiras. Acredita-se, ainda, que o Dia de São Nicolau é o último dia do ano para se pagar todas as dívidas.
Durante o período soviético na Ucrânia, São Nicolau, assim como outros santos, foi banido do calendário. Porém, na parte ocidental do país, a tradição não foi esquecida. Agora, depois da independência em 1991, essa comemoração vem sendo retomada e a tradição de presentear retorna com força total. E modernizada. O Dia de São Nicolau é considerado o Dia Internacional de Assistência aos Pobres e muitas comemorações são feitas nesta data, com atividades que englobam, não apenas distribuição de presentes para crianças, mas ações efetivas em prol dos mais necessitados.

Muitos sites – ucranianos em sua maioria – foram consultados para elaborar esse texto. O primeiro deles, de onde surgiu a ideia, foi http://ukrainian-recipes.com/the-mystery-of-st-mykolai-day-origin-ancient-traditions-and-modern-day-celebrations.html; em https://metropolia.org.br/cultura-ucraniana/tradicoes-populares/, esclareci várias dúvidas; quero agradecer também a Estafano Wonsik (https://www.facebook.com/eltonestefano.wonsik) que trouxe um texto sucinto e que ajudou – e muito – a orgnizar as ideias.
Vale uma historinha? Criança ainda, eu participei de uma festividade de São Nicolau. No palco, um senhor caracterizado: barbas brancas, vestes eclesiásticas, voz forte e profunda. De um lado, um anjo, todo meigo, de vestes azuis e imensas asas brancas. De outro, um ser todo escuro, com um rabo comprido e pontudo, dois chifres, um tridente em uma das mãos, que não parava de saltitar. De um saco enorme, que era seguro por várias pessoas, São Nicolau ia tirando pacotes e pacotinhos e ia lendo os nomes. A criança, geralmente no colo da mãe ou do pai, chegava perto do palco e São Nicolau perguntava como ela tinha sido durante o ano, se tinha obedecido à mãe, se tinha se comportado, enfim…. E caso a criança fizesse caras e bocas, o santo fazia menção de entregar o presente para o diabinho…. Era um deus-nos-acuda…. E o medão de chegar lá e o santo entregar o meu presentinho para ser entregue pelo diabinho???? Foi uma sensação incrível fazer esse texto, recuperar essa lembrança que tem trocentos anos e compartilhar essas histórias com você.