A lenda do Príncipe Oleg
Entre os séculos IX e X, reinou, na antiga Ucrânia, o Príncipe Oleg. Sobre ele existem crônicas e lendas.
Nas colinas de Kyiv [Київ] havia um grande castelo. Todas as janelas eram de cristal; as portas eram de ouro e havia muitos tapetes valiosos. Neste castelo vivia o Kniaz Oleg [Князь Олег]. Kniaz era a denominação dada aos rei de Russ de Kyiv [Київська Рус], atual Ucrânia. Kniaz Oleg era rico, inteligente e reinava com sabedoria e justiça. Defendia seu povo e seu reino contra os inimigos. E por isso todos os súditos o amavam.
Naquela época, cada rei tinha seu cavalo preferido. Kniaz Oleg também possuía o seu. Era um cavalo belo e negro, seu melhor amigo, muito amado.
Numa de suas campanhas, depois de marchar pelas estepes e atravessar rios com suas tropas, ao passar por uma floresta, Kniaz Oleg avistou um poço. Resolveu descansar e dar água aos cavalos. O povo os viu e veio ajudá-los. Entre eles havia muitos jovens que ofereceram baldes com água para os cavalheiros. Todos eles estavam sendo servidos e Kniaz Oleg esperava sua vez. Olhando ao redor, viu uma bela jovem com os cabelos soltos, olhos negros e brilhantes, lábios vermelhos como as cerejas e a face branca, branquinha. Muito triste, olhava para o Kniaz. De repente largou o balde e correu para ele.
— Oh, meu Kniaz! Você… Você morrerá por causa de seu cavalo! – falou a jovem.
— Como você você sabe que morrerei por causa do meu cavalo? – perguntou Kniaz Oleg.
— Eu sei. Eu senti com meu coração. – respondeu a moça.
— Não gostei deste presságio! – lamentou ele. – Será que você não poderia dizer algo de bom?
— Eu sei… eu sei… – insistiu a jovem. – Porém você morrerá por causa dele.
Depois de descansar, continuaram a marcha. Kniaz Oleg estava triste. Não conseguia esquecer a conversa e o olhar brilhante da jovem. “Você morrerá por causa de seu cavalo…”.
Porém, durante a batalha, esqueceu tudo e lutou com muita bravura. Após a vitória, voltavam todos orgulhosos para o reino. Passando pela mesma aldeia onde tinham anteriormente dado água aos cavalos, pararam e Kniaz Oleg foi até o poço. Lá estava a jovem bela e pálida e seus olhos brilhavam mais ainda.
— Boa tarde, feiticeira! – cumprimentou Kniaz Oleg. – Eu ainda estou vivo. E meu cavalo também.
— Você viverá por muito tempo. Fará seu reino mais belo e rico, porém você morrerá por causa de seu cavalo. O motivo da sua morte se espalhará por todo o reino e tudo que os bons Kniazes construirão, ela destruirá! – profetizou a jovem. – Cavalheiros! Matem-na! Matem-na!
A jovem caiu e desmaiou e tornou-se ainda mais pálida. Correram para ela porém ela não estava mais respirando.
— Como ela é linda! – falaram todos. – O que ela dizia? Matem-na? Matar a quem?
— O destino mostrará. – disse Kniaz Oleg.
Todos ficaram angustiados e foram embora para suas casas.
Triste, Kniaz Oleg deixou de montar o seu cavalo amado. Construiu um estábulo só para ele, para que nada faltasse a seu cavalo preferido.
Kniaz Oleg governou Russ de Kyiv por 33 anos, construindo, reafirmando e ampliando seu império. Porém nunca esqueceu o seu cavalo preferido e sempre que podia, fazia uma visita a ele.
Voltando de uma longa batalha, foi avisado de que seu cavalo havia morrido.
— Morreu o meu melhor amigo. Porém o presságio da jovem não se realizou. Eu estou vivo! Me levem até ele. – considerou Kniaz Oleg.
Levaram o Kniaz até lá, mas do cavalo só havia os brancos ossos. Kniaz tocou com o pé o crânio do cavalo. Dele saiu célere uma cobra venenosa que mordeu o pé do Kniaz.
Rapidamente o Kniaz foi levado para seu castelo. Colocaram-no na cama e tentaram salvá-lo.
— Isto já será o meu fim. – falou o Kniaz. – A jovem disse que minha morte seria por causa do meu cavalo. Também disse que a cobra se espalharia por todo o reino e tudo o que as boas pessoas haviam construído ela iria destruir.
No quarto, reinou o silêncio. O Kniaz ficou imóvel. Porém todos ouviam a voz da jovem: “Matem-na! Matem a cobra para não arruinar a vida do bom povo!”
Todos se aproximaram do agonizante Kniaz, que sussurrou:
— Encontrem a cobra. Se não, será a vossa desgraça! – e dizendo isso, morreu.
Até hoje a temível cobra rasteja entre o povo, porém ninguém consegue matá-la. Talvez faltou a força para os cavalheiros de Russ de Kyiv? Ou eles não conseguiram vê-la?
Sempre se ouvia a voz da jovem: “Matem-na! Matem-na! Ela está entre vós! Ela está aqui!”
Autoria: Lavriska, I. [І. Лаврівська], no capítulo Kniaz Oleg no livro História da Ucrânia em Fábulas e Lendas [Історія України в казках та легендах], editora Avers [Аверс], 2001, Lviv [Львів], Ucrânia.
Tradução: Ludmila Szymanskyj

Imagens in: aversbooks
Amei a história,
Obrigada Doroti por seu comentário.